O que realmente explica o aumento da incidência de TEA? Entenda por que essa pergunta ainda não tem resposta definitiva

Introdução

Nas últimas décadas, os números de diagnósticos de Transtorno do Espectro Autista (TEA) subiram de forma impressionante. Mas esse aumento significa que o autismo está se tornando mais comum? Ou simplesmente estamos identificando mais casos do que no passado?

A resposta honesta — e baseada em evidências — é: não sabemos ao certo. E existe um motivo científico claro para isso.

Neste artigo, explico por que essa pergunta é tão difícil de responder, quais fatores contribuem para o aumento dos diagnósticos e o que isso significa para famílias, escolas e profissionais de saúde.

O que é TEA? (Resumo para o leitor)

O Transtorno do Espectro Autista é uma condição do neurodesenvolvimento caracterizada por diferenças na interação social, comunicação e padrões comportamentais. O termo “espectro” indica que há grande variação: algumas pessoas precisam de suporte intenso; outras têm vida independente, mas apresentam desafios sutis.

Para entender melhor sobre sinais precoces, você pode ler:
👉 Atraso de fala: quando investigar?

As prevalências de TEA realmente aumentaram — mas o que isso significa?

Em 2000, a prevalência estimada era cerca de 1 para 150 crianças. Hoje, segundo o CDC, está em torno de 1 para 36.
Fonte: CDC – Autism Data

Vendo isso, parece óbvio dizer que o autismo está aumentando. Mas as coisas não são tão simples.

Por que não dá para afirmar — nem negar — que o TEA esteja realmente aumentando?

1. Critérios antigos eram confusos, restritivos e inconsistentes

Antes do DSM-5, autismo era dividido em: Autismo clássico, Síndrome de Asperger e TGD-SOE. Essas categorias tinham sobreposição enorme, subjetividade diagnóstica, pouca confiabilidade entre avaliadores e exclusão de perfis leves e mascarados.

Isso significa que grande parte das pessoas que hoje recebem diagnóstico simplesmente não se encaixariam nos critérios antigos. Por isso é metodologicamente impossível comparar décadas diferentes.

2. O subdiagnóstico histórico foi gigantesco

Até 2010 no Brasil, pouquíssimos adultos eram diagnosticados, meninas eram quase sempre ignoradas, TEA nível 1 era confundido com timidez ou ansiedade, o acesso a neuropediatras era limitado e escolas não tinham preparo para identificar sinais.

Ou seja: uma parte do “aumento” atual é apenas a identificação de casos que sempre existiram.

3. A conscientização mudou toda a dinâmica

Com pais, escolas e pediatras mais atentos, há mais encaminhamentos, triagens com ferramentas validadas (como o M-CHAT), maior busca por profissionais especializados. Isso gera uma explosão de diagnósticos — mesmo sem mudança real na biologia do TEA.

4. Mas também não há base científica para negar totalmente um aumento real

Aqui está o ponto mais importante e equilibrado:

Não há evidência forte de aumento biológico do TEA. Mas também não há evidência forte de que esse aumento não exista.

Alguns fatores podem contribuir para um pequeno aumento real: idade parental mais avançada, maior sobrevivência de prematuros extremos, complicações perinatais e exposições ambientais ainda pouco compreendidas.

5. O problema é metodológico: os estudos não conseguem isolar variáveis

Para saber se uma condição realmente está aumentando, seria necessário manter os mesmos critérios diagnósticos por décadas, triagem igual em todas as regiões, acesso universal a especialistas e registro histórico detalhado. Nada disso existe.

Por isso, cientificamente, não é possível determinar se o aumento é real ou apenas aparente.

Então… o que podemos afirmar com segurança?

O consenso atual pode ser resumido assim:

“As taxas de diagnóstico de TEA aumentaram nas últimas décadas, mas não sabemos se isso representa um aumento real na incidência biológica. As mudanças nos critérios, a redução do subdiagnóstico e a maior conscientização explicam grande parte do crescimento observado. Ao mesmo tempo, não podemos descartar completamente um aumento pequeno e real influenciado por fatores ambientais ou obstétricos.”

Fatores que realmente aumentam o número de diagnósticos

  • Critérios mais amplos
  • Melhora do acesso a especialistas
  • Inclusão de autismo leve
  • Diagnóstico em adultos
  • Triagem precoce na pediatria
  • Maior conhecimento das escolas
  • Redução do estigma

Quer saber mais sobre avaliação diagnóstica?
👉 Avaliação Neurológica Infantil – One Neuro

Sinais de alerta que merecem avaliação

  • Atraso de fala
  • Pouco contato visual
  • Dificuldade de interação com outras crianças
  • Comportamentos repetitivos
  • Interesses muito restritos
  • Hipersensibilidades sensoriais

Importância do diagnóstico precoce

Independente da discussão sobre prevalência, algo é certo: diagnosticar cedo melhora muito o prognóstico.

Intervenções precoces reduzem prejuízos em linguagem, interação, comportamento e autonomia.

👉 Agendar consulta via WhatsApp

Conclusão

A aparente explosão de casos de TEA é multifatorial. Grande parte se deve a mudanças na forma de diagnosticar, maior conhecimento e redução do subdiagnóstico. Por outro lado, fatores ambientais e obstétricos podem contribuir para um pequeno aumento real — que hoje não podemos medir com precisão.

O que sabemos é:

  • Estamos enxergando melhor o espectro.
  • Estamos diagnosticando mais cedo.
  • Estamos identificando perfis antes ignorados.
  • Isso é positivo — e melhora qualidade de vida e desenvolvimento.

Para outros artigos, visite:
👉 Blog One Neuro

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Categorias

Últimos Artigos

Entre em contato

Se alguma informação deste artigo fez sentido para você ou despertou dúvidas sobre sua saúde ou a de alguém da sua família, nossa equipe está pronta para te acolher.

Na nossa clínica, cada consulta é pensada com calma, escuta ativa e um olhar atento para cada detalhe.